sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Porto

Inicialmente, a Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia instalou-se na capela de S. Tiago, no claustro velho da Sé do Porto no entanto em 1555, atendendo à beleza da Rua das Flores, aberta por D. Manuel alguns anos antes, mudaram para lá a Casa do Despacho, iniciando nesse mesmo ano a construção da sua igreja, que seria benzida em 13 de Dezembro de 1559.

Deve acrescentar-se que a existência desta igreja e confraria se deveu à constituição da Santa Casa da Misericórdia do Porto em 1502, constituída na sequência duma carta que D. Manuel I escreveu, em 1499, «aos juizes, vereadores, procurador, fidalgos, cavaleiros e homens bons» da cidade, na qual lhes recomendava a criação duma confraria semelhante à de Lisboa, instituída no ano anterior.

A igreja foi benzida ainda incompleta pois a construção da capela-mor data de 1584, recebendo o Santíssimo em 1590.

A igreja foi reedificada em 1748, sendo reforçadas as paredes, construídos abóbadas novas e uma nova fachada, desenhada por Nicolau Nasoni em estilo «barroco luxurioso do sul de Itália, já dominado pelas formas do rococó». Da antiga igreja preservou-se apenas a capela-mor.

"A fachada assenta sobre três arcadas que abrem o andar inferior, apoiadas em altos pedestais. O arco central, porta de entrada para o vestíbulo, é rematado por uma cartela com uma legenda bíblica e a data de 1750, sendo esta zona central fechada com um frontão circular partido e profusamente decorado; os laterais são rematados por conchas. O segundo piso, assente no entablamento divisório, termina também num frontão circular, partido, luxuriantemente decorado; compõem o conjunto três janelões de recorte ondulado (de maiores dimensões o central), encimados por frontões ricamente decorados. Remata a fachada um grande frontão, com o emblema da Misericórdia e a coroa real, e sobre a cornija encurvada erguem-se quatro fogaréus e, no topo, uma cruz de pedra trabalhada. "

"O interior da igreja é de uma só nave com abóbada de tijolo recoberto de estuques e as paredes estão revestidos de azulejos azuis e brancos, que substituíram, em 1866, os primitivos. A capela-mor é coberta por uma abóbada barroco-jesuítica decorada, em granito, e as paredes, também em granito bem trabalhado, dividem-se em dois frisos: o superior decorado com colunas coríntias e janelas com grades de ferro dourado (do século XIX); no inferior, com colunas jónicas, abrem-se vários nichos com imagens dos evangelistas do século XVI, em madeira, mas pintadas em 1888, a imitar mármore. A decoração interior tem alguns aspectos valiosos, nomeadamente a sanefa de talha neoclássica do arco cruzeiro, onde figuram as armas reais e a imagem de Nossa Senhora da Misericórdia. De algum valor artístico são ainda as capelas e os altares laterais, com painéis e imagens valiosos, o coro, assente num belo arco abatido e recortado e o guarda-vento com vistosa talha rococó. "

No claustro, em cuja galeria figuram retratos de vários pintores portugueses, há uma lápide comemorativa do antigo hospital de D. Lopo, reminiscência do primitivo hospital fundado com o legado de D. Lopo de Almeida, uma obra de assistência que a Misericórdia sempre assumiu como um dos seus mais firmes compromissos e a levou a construir, em 1769, o Hospital de Santo António, para substituir os exíguos e mesquinhos hospitais que então possuía e administrava. Relembre-se pois, que a Misericórdia portuense é o maior senhorio privado do Porto e um dos maiores do País. O Estado é um dos seus muitos locatários, tendo arrendados os hospitais de Santo António e do Conde Ferreira, as escolas secundárias de lrene Lisboa e Carlos Cal Brandão e as esquadras da PSP do Amial e do Pinheiro Manso.

O tesouro da Santa Casa, conservado no seu Arquivo Histórico (com documentação e códices valiosos) e no Museu (em constituição), é igualmente de grande riqueza, com destaque para várias peças de ourivesaria e excelentes pinturas, em que sobressai o célebre quadro «Fons Vitae», um óleo em madeira, obra-prima do gótico final, de autor desconhecido, mas dos princípios do século XVI, oferecido à Misericórdia por D. Manuel I e que serviu de retábulo na primitiva capela de S. Tiago e se conserva agora na magnífica Sala das Sessões da Santa Casa.

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