A referência mais antiga ao povoado de Arouca, ou Aravoca, data do século VI. No entanto, a consolidação e desenvolvimento da sua malha urbana durante a Idade Média e Idade Moderna estão intimamente ligados ao mosteiro cisterciense de Santa Maria, situado no centro da povoação e fundado no século X.
O crescimento do cenóbio foi determinante para o desenvolvimento da vila, bem como de toda a região do vale de Arouca, e em 1513 D. Manuel concedeu carta foralenga à povoação, que assim se tornava sede de concelho.
Cerca de cem anos mais tarde, a povoação local constituiu a Misericórdia de Arouca, seguindo o exemplo de muitas vilas do país, que através deste tipo de irmandade constituíam mecanismos de assistência social e religiosa. Fundada em 1610 (União das Misericórdias Portuguesas, 2003), a confraria iniciou pouco tempo depois a construção de uma igreja própria, situada na praça principal da vila.
O templo, de planta rectangular disposta longitudinalmente, apresenta uma estrutura de pequenas dimensões, que contrasta com a riqueza do programa decorativo interior. É de destacar a unicidade do conjunto, uma vez que a estrutura original seiscentista, que inclui o conjunto azulejar. A campanha barroca executada no final do século XVIII, que contemplou o arco do altar do Senhor dos Passos e a cobertura pintada da nave, integrou-se de forma harmoniosa com a estrutura já existente.
A fachada apresenta ao centro portal de arco pleno, inserido num alfiz com colunelos simples e pináculos. No friso foi inscrito "DEVOTI - FECERE - AN - 1612", indicando a data de edificação do templo. O conjunto é encimado por um óculo, sobre o qual esculpiram o escudo de Portugal. Do lado direito da fachada foi edificada a torre sineira, dividida em quatro registos, com portal de entrada no primeiro e janela de sacada precedida de guarda de ferro no segundo.
O espaço interior do templo é composto por uma única nave, cujas paredes são totalmente revestidas por painéis de azulejos de padrão azuis e amarelos, executados na primeira metade do século XVII. Em 1773 o provedor da irmandade, Doutor José dos Santos Teixeira Teles, mandou pintar o tecto do templo. Composto por 45 caixotões de madeira, este conjunto foi totalmente decorado com pinturas representando temática mariana, os Evangelistas, os Apóstolos e Doutores da Igreja, e temática da vida de Cristo. Do lado do Evangelho foi edificada a Capela do Senhor dos Passos, em talha dourada e policromada, e no espaço fronteiro foram colocados o púlpito, também de madeira policromada, e a tribuna dos mesários.
À semelhança do que sucedia em muitas igrejas de misericórdia edificadas no século XVII, o espaço da capela-mor é diferenciado apenas por um desnível do chão. O retábulo-mor, de modelo maneirista, divide-se em dois registos, o primeiro albergando três tábuas pintadas com temas marianos, a Anunciação , a Visitação e a Creche , e dois nichos com estatuária, o segundo com cinco pinturas, a Virgem com São João , Santo António , São Francisco , e duas com temas da Paixão de Cristo , também em tábua, e um crucifixo (GONÇALVES, 1959). A estrutura é decorada com relevos de motivos de grotesco .
Catarina Oliveira
GIF/IPPAR/ 1 de Fevereiro de 2006
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