A Igreja da Misericórdia foi construída no princípio do século XVI (numa das pilastras do pórtico tem inscrita a data de 1511), mas cujas origens remontam à década de 1370, quando o Rei D. Fernando e a Rainha D. Leonor de Teles, então a viverem nesta zona, fugindo da peste que então grassava em Lisboa e esperando, ao mesmo tempo, que serenassem os ânimos populares bastante agitados com o casamento do seu Rei, ali mandaram erguer uma capela, perto da primitiva Matriz, a Igreja de S. Mateus, que ficava quase em frente. É curioso notar que a Igreja da Misericórdia é um dos raros templos do Sardoal que contraria a orientação clássica que manda colocar a nascente a capela-mor, que aqui se encontra em sentido contrário. Com o dinheiro da Confraria da Misericórdia se alargou o templo no ano de 1552.
Segundo Serrão da Mota (ibidem), são as seguintes as origens da Igreja da Misericórdia:
“ (...) Continuou, enfim, tanto a devoção dos moradores desta Vila, em grandiosas dádivas, com que muitas pessoas, por sua morte, enriquecendo a dita Confraria, que as posses vieram a superar as despesas e sem faltar com o que a caridade pedia com os pobres, se compraram mais umas casas que foram de Álvaro do Casal, que foi Provedor do Hospital dos Mancos da cidade de Lisboa, segundo consta de um truncado pergaminho do Arquivo da Câmara e onde depois morreu aqui pobremente, ali no lugar das ditas casas, acrescentando-se com elas e uma tal capelinha fabricaram a Igreja e Sacristia, como hoje existe, sendo Provedor da Confraria: Simão Dias, Escrivão: Diogo Lourenço Panasco e Procurador: Simão Vaz, criado de D. António de Almeida e Mordomo: Fradique Lopes, os quais no ano de 1552 fizeram arrematar a dita obra, com o portal que tem de pedra de Coimbra e arco da capela a dois oficiais da mesma cidade, por 120 mil réis e certas condições. No mesmo ano entrou Gil Vaz, também cavaleiro, por Provedor e Rodrigo de Parada, por Escrivão, mandaram fazer o pátio e degraus na forma que hoje se acham e custaram 17 mil réis, sendo os oficiais desta Vila e a pedra de Cabeça das Mós, termo dela. A milagrosa imagem do Santo Crucifixo que com devoção foi ele em todos os tempos venerado e por quem este povo foi socorrido nas preces com que lhe suplicava remédio dos bens temporais, quando se viam perecer por falta de chuvas, foi havida pela devota piedade de Margarida Pinta, senhora nobre desta Vila, para cujo único fim deixou à Confraria 80 mil réis, entre muitas coisas mais.”
Gustavo de Matos Sequeira, no seu Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém, Volume III, Lisboa 1949, refere, o seguinte, sobre esta Igreja:
“Edifício do século XVI, com algumas modificações posteriores. Portal de pedra de estilo renascentista, de uma linda cor dourada, guarnecido de medalhões entre a curva do arco e a equitrave, com lavores no friso e nas faces das pilastras. Composição arquitectural mais segura e melhor modelada que a do portal da Misericórdia de Abrantes. Junto da base e ombreira do lado direito há infiltrações de salitre.
Sobre o portal, amparada por anjos, avulta um edículo de coroação com o painel da Misericórdia. Superiormente há dois óculos de iluminação.
A porta lateral de arco de volta redonda, tem o último moldado acirelado de seis lóbulos ornamentais. Há, ainda, uma fresta esbelta lateral, muito interessante, no estilo renascentista do porta-ólios do Baptistério da Igreja da Atalaia.
No exterior do templo, vê-se, ainda, um painel de azulejos modernos da autoria do pintor Gabriel Constant, representando a Rainha D. Leonor e um letreiro que diz ter sido o edifício restaurado em 1931.
Interiormente é um templo de uma nave coberta de tecto de madeira, sendo o arco triunfal, lavrado em estilo renascença e apoiado em capitéis com figuras. Na empena há um revestimento de azulejos do século XVIII, azuis e brancos e ao alto uma cruz e um calvário pintados a cor de vinho. No corpo do templo um silhar de azulejos da mesma época e cores, sendo a capela-mor também forrada da mesma decoração cerâmica, de padrão e figuras com janelas e portas fingidas de cor de vinho e nos vãos vasos floridos. No lado da Epístola há um painel central com a cena do Lava-Pés, fronteiro a um altar que ocupa o lado do Evangelho. No altar-mor está um Cristo, escultura de madeira do século XVII.
No trabalho “SARDOAL: UMA VISÃO DE FUTURO - Perspectivas de reordenação do seu património artístico”, apresentado pelas Dras. Teresa Cunha Matos e Maria Teresa Desterro, ambas Mestres em História da Arte, nas Jornadas de Património Rural, realizadas em Constância, em Outubro de 1998, sobre a Igreja da Misericórdia, refere-se, a dado passo, o seguinte:
“ A atestar a feitura quinhentista ficaram-nos as mais belas representações decorativas, nos dois portais e em uma janela, de magnífico lavor Renascença.
O portal lateral de recorte manuelino, encontra-se, infelizmente, bastante danificado. É, no entanto, o portal principal a obra-prima desta igrejinha, cujo avançado estado de deterioração, se não for urgentemente intervencionado, poderá fazer desaparecer mais uma das jóias da nossa Renascença.
Trata-se de um típico portal renascentista, já o dissemos, esculpido em pedra de Ançã. O enquadramento arquitectónico é constituído pelo friso e pilastras* de fino lavor decorativo, que delimitam o arco de volta perfeita ladeado pelos tradicionais medalhões com bustos salientes.
A arquitrave é sobrepujada por um edículo escultórico onde se representa Nª Srª da Misericórdia e respectivos acompanhantes, o clero de um lado, a nobreza do outro, acolhendo-se sob o seu manto protector.
O cuidado posto na execução figurativa, a delicadeza aristocrática do tratamento da Senhora, a excelência, enfim, do conjunto escultórico, já levaram algumas vezes a admitir a hipótese de tratar-se de obra de Nicolau de Chanterenne. Mais provável nos parece tratar-se de obra da sua oficina.”
Segundo Serrão da Mota (ibidem), são as seguintes as origens da Igreja da Misericórdia:
“ (...) Continuou, enfim, tanto a devoção dos moradores desta Vila, em grandiosas dádivas, com que muitas pessoas, por sua morte, enriquecendo a dita Confraria, que as posses vieram a superar as despesas e sem faltar com o que a caridade pedia com os pobres, se compraram mais umas casas que foram de Álvaro do Casal, que foi Provedor do Hospital dos Mancos da cidade de Lisboa, segundo consta de um truncado pergaminho do Arquivo da Câmara e onde depois morreu aqui pobremente, ali no lugar das ditas casas, acrescentando-se com elas e uma tal capelinha fabricaram a Igreja e Sacristia, como hoje existe, sendo Provedor da Confraria: Simão Dias, Escrivão: Diogo Lourenço Panasco e Procurador: Simão Vaz, criado de D. António de Almeida e Mordomo: Fradique Lopes, os quais no ano de 1552 fizeram arrematar a dita obra, com o portal que tem de pedra de Coimbra e arco da capela a dois oficiais da mesma cidade, por 120 mil réis e certas condições. No mesmo ano entrou Gil Vaz, também cavaleiro, por Provedor e Rodrigo de Parada, por Escrivão, mandaram fazer o pátio e degraus na forma que hoje se acham e custaram 17 mil réis, sendo os oficiais desta Vila e a pedra de Cabeça das Mós, termo dela. A milagrosa imagem do Santo Crucifixo que com devoção foi ele em todos os tempos venerado e por quem este povo foi socorrido nas preces com que lhe suplicava remédio dos bens temporais, quando se viam perecer por falta de chuvas, foi havida pela devota piedade de Margarida Pinta, senhora nobre desta Vila, para cujo único fim deixou à Confraria 80 mil réis, entre muitas coisas mais.”
Gustavo de Matos Sequeira, no seu Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém, Volume III, Lisboa 1949, refere, o seguinte, sobre esta Igreja:
“Edifício do século XVI, com algumas modificações posteriores. Portal de pedra de estilo renascentista, de uma linda cor dourada, guarnecido de medalhões entre a curva do arco e a equitrave, com lavores no friso e nas faces das pilastras. Composição arquitectural mais segura e melhor modelada que a do portal da Misericórdia de Abrantes. Junto da base e ombreira do lado direito há infiltrações de salitre.
Sobre o portal, amparada por anjos, avulta um edículo de coroação com o painel da Misericórdia. Superiormente há dois óculos de iluminação.
A porta lateral de arco de volta redonda, tem o último moldado acirelado de seis lóbulos ornamentais. Há, ainda, uma fresta esbelta lateral, muito interessante, no estilo renascentista do porta-ólios do Baptistério da Igreja da Atalaia.
No exterior do templo, vê-se, ainda, um painel de azulejos modernos da autoria do pintor Gabriel Constant, representando a Rainha D. Leonor e um letreiro que diz ter sido o edifício restaurado em 1931.
Interiormente é um templo de uma nave coberta de tecto de madeira, sendo o arco triunfal, lavrado em estilo renascença e apoiado em capitéis com figuras. Na empena há um revestimento de azulejos do século XVIII, azuis e brancos e ao alto uma cruz e um calvário pintados a cor de vinho. No corpo do templo um silhar de azulejos da mesma época e cores, sendo a capela-mor também forrada da mesma decoração cerâmica, de padrão e figuras com janelas e portas fingidas de cor de vinho e nos vãos vasos floridos. No lado da Epístola há um painel central com a cena do Lava-Pés, fronteiro a um altar que ocupa o lado do Evangelho. No altar-mor está um Cristo, escultura de madeira do século XVII.
No trabalho “SARDOAL: UMA VISÃO DE FUTURO - Perspectivas de reordenação do seu património artístico”, apresentado pelas Dras. Teresa Cunha Matos e Maria Teresa Desterro, ambas Mestres em História da Arte, nas Jornadas de Património Rural, realizadas em Constância, em Outubro de 1998, sobre a Igreja da Misericórdia, refere-se, a dado passo, o seguinte:
“ A atestar a feitura quinhentista ficaram-nos as mais belas representações decorativas, nos dois portais e em uma janela, de magnífico lavor Renascença.
O portal lateral de recorte manuelino, encontra-se, infelizmente, bastante danificado. É, no entanto, o portal principal a obra-prima desta igrejinha, cujo avançado estado de deterioração, se não for urgentemente intervencionado, poderá fazer desaparecer mais uma das jóias da nossa Renascença.
Trata-se de um típico portal renascentista, já o dissemos, esculpido em pedra de Ançã. O enquadramento arquitectónico é constituído pelo friso e pilastras* de fino lavor decorativo, que delimitam o arco de volta perfeita ladeado pelos tradicionais medalhões com bustos salientes.
A arquitrave é sobrepujada por um edículo escultórico onde se representa Nª Srª da Misericórdia e respectivos acompanhantes, o clero de um lado, a nobreza do outro, acolhendo-se sob o seu manto protector.
O cuidado posto na execução figurativa, a delicadeza aristocrática do tratamento da Senhora, a excelência, enfim, do conjunto escultórico, já levaram algumas vezes a admitir a hipótese de tratar-se de obra de Nicolau de Chanterenne. Mais provável nos parece tratar-se de obra da sua oficina.”